“Os Experimentos em Animais ATRASAM o progresso da ciência”.

junho 29, 2010

Um banqueiro iluminado pela natureza: Entrevista a Pavan Sukhdev



Podia ter dois modelos da Porsche, mas prefere o seu Toyota Prius de 2003. Não come peixe nem carne vermelha. É um “vegetariano científico”. Chama-se Pavan Sukhdev, é banqueiro no Deutsche Bank e converte em dólares o potencial da biodiversidade. Só assim convence políticos, economistas e gestores


Podia ter dois modelos da Porsche, mas prefere o seu Toyota Prius de 2003. Não come peixe nem carne vermelha. É um “vegetariano científico”. Chama-se Pavan Sukhdev, é banqueiro no Deutsche Bank e converte em dólares o potencial da biodiversidade. Só assim convence políticos, economistas e gestores.
Por cada euro investido na preservação dos ecossistemas e biodiversidade, há um retorno potencial 100 vezes maior. Preservar a biodiversidade custaria algo como 37 mil milhões de euros anuais. O retorno desse investimento seria da ordem dos 3,6 biliões de euros. As contas são do economista indiano Pavan Sukhdev, um banqueiro do Deutsche Bank escolhido pelas Nações Unidas para dirigir a iniciativa “Green Economy” e eleito pela União Europeia para liderar o estudo “The Economics of Ecosystems and Biodiversity” (TEEB). Há que dar números ao ambiente para convencer políticos, economistas, financeiros, gestores e consumidores. Pavan Sukhdev está suficientemente convencido e aplica as suas teorias ao quotidiano.

É um cidadão exemplar? 
Espero que não seja um mau exemplo... há duas coisas que faço no que respeita a ecossistemas e biodiversidade. Há dez anos, na Austrália, eu e a minha mulher comprámos um terreno no Estado de Queensland, na Austrália. Estamos, lentamente, a reflorestar a zona, em especial junto ao rio, criando uma espécie de corredor de vida selvagem. Os ‘tree-kangaroos’ (’canguru das árvores’) e os casuares (aves de grande porte) voltaram. Também estamos a plantar árvores de frutos. Construímos , igualmente, um projecto de eco-turismo. A minha ideia é que este complexo possa capturar carbono e, assim, compensar a emissão de dióxido de carbono, já que eu viajo muito....

E no seu dia-a-dia?
Não como camarões. Nem carne vermelha. Nem peixe. Ao alertar para a forma como o consumo pode afectar a biodiversidade, costumo dar o exemplo do impacto da pesca de camarão no Sul da Tailândia. As explorações de aquacultura destroem grandes superfícies de floresta de mangal. Geram receitas da ordem de 1.220 dólares por hectare, mas acarretam a perda, para as comunidades locais, de produtos florestais de madeira e de outros tipos, de pescarias e de serviços de protecção costeira, no valor de 12.000 dólares por hectare. Também não como carne vermelha, desde que tomei consciência que cerca de 30% da terra é usada para a criação de gado. Deixei de comer peixe do mar. A pesca recebe 27 mil milhões de dólares anuais em subsídios, um terço da facturação resultante do peixe capturado. O resultado disso é que os ‘stocks’ de peixe nos oceanos estão a entrar em colapso. É insustentável. O que como? Podia comer frango, mas não gosto. [Risos]. Basicamente, tornei-me vegetariano, um vegetariano cientifico...

Uma dieta alimentar sustentável, portanto. E no consumo de outros produtos, a sociedade contemporânea anda a consumir demasiado? Dois ou mais telemóveis por pessoa...
Esse é dos meus problemas... tenho vários ‘blackberry’... Mas é uma falha de tecnologia. Eu gostava de ter um único ‘blackberry’ com três números de telefone incorporados! Um para Índia, outro para o Reino Unido, outro para os EUA! Aí está uma oportunidade de negócio: eu investiria na empresa que colocasse vários números num só dispositivo! 
Tenho vários telemóveis, mas conduzo o mesmo carro há sete anos, um Toyota Prius, que comprei em Londres. Repare, eu trabalho num banco de investimento e, acredite em mim, posso comprar um Mercedes, um Porsche, dois Porsche... Não o faço. Não acho correcto. A minha mulher já se habitou ao nosso Toyota. [Risos]. Quando fizer um ‘upgrade’, compro um novo Toyota, talvez um Lexus. É uma piada, mas há escolhas. Porque é que as pessoas escolhem fazer férias do outro lado do mundo? Sou um adepto das distâncias curtas. Não se trata de deixar de consumir e sim de consumir melhor. Claro, falo, sobretudo, dos países desenvolvidos, onde urge um consumo sustentável. 

Além de um consumo sustentável, qual o papel dos cidadãos?
Como cidadãos, devem votar no político certo, naquele que tenha consciência das questões relacionadas com a biodiversidade. Os políticos ainda não agem tendo em conta os benefícios públicos.. Mas, no mundo contemporâneo, em especial nas democracias, os governantes são seguidores e não lideres. Seguem o que as pessoas querem. Muito poucos políticos são lideres e, por isso, o poder está nas mãos dos indivíduos....

Para despertar maior consciência?
Sim. Uma dos aspectos positivos das mudanças climáticas é que as pessoas tornaram-se mais sensíveis e conscientes. ‘Espera lá, afinal não são apenas os centros comerciais, mercados, cidades. É sobre algo maior, a terra’. Abriu a mente das pessoas. Há dez ou quinze anos, as pessoas não estavam preocupadas com a natureza, mas com o seu rendimento, a sua família, o seu consumo, etc.

Não continuam a estar? O receio que destruição da natureza possa ter nas suas vidas ... 
Sim. Mas abriu-se uma nova dimensão. 


E essa nova dimensão é, realmente, tida em conta pelas empresas? Pelo caso BP parece que não...
A BP é só um exemplo do impacto das externalidades. Um estudo da consultora Trucost para a ONU estima que, em 2008, a actividade das três mil maiores empresas públicas mundiais teve um custo ambiental de 2,25 mil milhões de dólares, valor que corresponde a um terço da sua facturação. Ou seja, se as empresas fossem obrigadas a pagar ficariam sem um terço dos resultados... 


Os gestores estão cientes destes impactos?
Não, mas existem excepções. A Rio Tinto, empresa que actua no sector da exploração mineira, é um desses casos. O CEO, Tom Albanese, desenvolveu uma estratégia para a biodiversidade positiva. Claro que é difícil quando se trata de uma empresa mineira, que destrói florestas... Mas é isso mesmo que ele quer acautelar: evitar algumas minas, mitigar outras, recuperar algumas florestas, promover a conservação. A Cola-Cola é outra excepção. A multinacional, uma das empresas que mais consome água do mundo [2,08 litros de água para fabricar cada litro da bebida] quer ser ‘water neutral’ até 2020 [devolvendo’ à natureza toda a água consumida, através da plantação de árvores, aproveitamento da chuva...] Também a Unilever comprometeu-se, até 2015, utilizar apenas óleo de palma proveniente de fontes certificadas como sustentáveis [alguns fornecedores de óleo de palma, usado na produção de cosméticos, são suspeitos da destruição de florestas de alto valor de conservação e invasão de campos selvagens]. As oportunidades de negócio são imensas na economia verde. Mais inovação. A revolução tecnológica permite a criação produtos não poluentes e mais baratos. 


A BP também tinha, desde 2000, uma estratégia de biodiversidade...As petrolíferas têm noção das suas externalidades?
Não. Já houve derrames anteriores, nomeadamente o caso Exxon Valdez. Pensei que se tinham retirado lições dessa catástrofe. Afinal ,talvez não. Agora aprendemos outra lição, várias lições. Uma sobre risco, outra sobre externalidades e outra sobre licenças sociais para operar. A tensão actual entre BP e o governo norte-americano é, precisamente, sobre licenças sociais para operar. É isso que o presidente Obama e os norte-americanos questionam. 


Como lê a actuação de Obama no caso BP?
Obama está a trabalhar muito, fez um discurso muito convincente para alertar os cidadãos de que o futuro seguro está nas energias limpas, no sentido de evitar acontecimentos como este, mas também, para evitar a dependência política em relação ao Médio Oriente, dando às pessoas a oportunidade de crescer numa economia verde. Daqui a uns 50 anos, os nossos netos vão perguntar: “O quê? Vocês queimavam petróleo?’. O petróleo é bom, mas temos de o guardar para coisas melhor uso, em vez de o queimar para gasolina. 


Em todo este contexto, qual será o desfecho da BP? 
Não faço ideia, mas penso que fará com que as pessoas pensem de uma forma mais profunda sobre o tipo de economia e de sociedade em que querem viver. A verdade é que as pessoas aceitam as externalidades corporativas de uma forma natural, como algo sobre o qual não se devem preocupar. Mas têm mesmo de se preocupar. Tal como referi, as externalidades representam um terço dos lucros das três mil maiores empresas, o que significa que algumas empresa têm externalidades mais elevadas que os lucros. Faz sentido? As pessoas têm que tomar uma atitude, é bom senso económico. 


Defende mais legislação nas externalidades? Maior transparência?
Pode optar-se por uma legislação mais apertada, que internalize as externidades. Por exemplo: com leis que obriguem as empresas a prestar informação sobre as externalidades de forma a que os investidores e sociedade tenham conhecimento dos reais custos. Este conhecimento, colocado nos relatórios anuais das companhias. iria ter impacto na forma da empresa operar. Também se pode impor custos aos produtos que criem externalidades e aplicar taxas à extracção de minerais no solo, por exemplo. As companhias que extrem petróleo devem ser cobradas por isso. Porque é que as empresas pagam impostos sobre lucros e receitas e não sobre coisas más? Porque é que só taxamos as coisas boas?


Não é preciso escolher entre crescimento e ambiente...
Não. O que é precioso é escolher entre crescimento inteligente ou crescimento estúpido. Sou financeiro há 25 anos, sei o que os mercados fazem e não fazem. Posso dizer que não estão aqui para resolver problemas sociais. O velho modelo da economia tem de mudar. E vai mudar, há empresas que começaram a trilhar caminhos para conquistarem prestígioentre os consumidotes, mas não chega. Não teremos mudanças significativas no mundo corporativo a não ser que mudem certas regras. Quando os políticos ou economistas me dizem que têm soluções de mercado para tudo, eu simplesmente rio. 


Sente-se bizarro nesse mundo?
Sou um financeiro de sucesso. Posso comprar dois Porsche e fazer o que os outros fazem, ou querem fazer, mas não. Desafio-os a dizerem-me porque é que o meu modelo de comportamento é menos inteligente. Não conseguem.



Fonte: JN

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