Para muitos calouros que sonham se tornar médicos, veterinários, biólogos,
farmacêuticos, nutricionistas, dentistas, entre outros, não é fácil encarar
uma aula onde animais são usados como cobaias em “prol do ensino” - cria-se
assim um conflito: por um lado a graduação tão esperada e por outro, a
própria consciência que condena a prática da faculdade.
No meio desse impasse é o aluno que acaba cedendo na maioria da vezes.
Muitos não sabem como agir ou a quem recorrer, seguem o que a grade
curricular dita. Mas existe sim uma saída que pode não ser simples, mas é
tão importante que é assegurada pela constituição e tem até data para
comemorar: 15 de maio, o *
Dia Internacional da Objeção de Consciência*.
Mas o que é objeção de consciência no ensino? É um direito previsto na
Constituição que garante ao aluno, como cidadão, se recusar a obedecer
regras que vão contra seus princípios, tendo o direito de se manter fiel às
suas crenças e convicções sem que isso prejudique a vida acadêmica. Em suma,
a democracia.
*
E na prática?
Os jovens Róber Bachinski e Juliana Itabaiana não são apenas apaixonados
pela biologia, os dois viraram notícia ao ganharem na justiça o direito da
objeção de consciência. Róber foi o primeiro aluno brasileiro a
conquistá-la, em 2007, quando o então estudante de biologia da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) esbarrou na intransigência de alguns
professores do 4° semestre que não aceitavam sua opinião.
“Expliquei os motivos que me faziam não querer participar daquelas aulas
(motivos éticos por defender o interesse básico dos animais), mas negaram.
Tentei novamente através de e-mails, mas eles mantiveram a posição. Então
recorri ao colegiado do curso, com uma objeção de consciência por escrito e
protocolada na universidade”, relembrou Róber.
A batalha não foi fácil. Na época a universidade negou o pedido do estudante
que entrou com um mandado de segurança para garantir o direito à objeção de
consciência. A primeira sentença foi favorável, com um parecer esclarecedor
e didático. O segundo foi mais tradicional, mas a conhecida lentidão do
judiciário foi favorável nesse caso e Róber terminou seus estudos
respeitando seus valores.
Mas o gesto incentivou outros estudantes que passam pela mesma situação. Foi
o que aconteceu o ano passado com a carioca Juliana Itabaiana, aluna do
curso de biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que
conseguiu uma liminar dispensando-a de assistir aulas práticas com uso de
animais.
“No meu segundo período tive um professor que foi irredutível, então abri
um processo interno na própria faculdade, mas foi negado. Nessa época entrei
em contato com o Róber, ele me deu muita força e me indicou um advogado”,
conta Juliana.
Há 11 anos motivada por alunos que assim como Róber e Juliana não
concordavam em como os animais eram tratados, a *ARCA Brasil *foi mais uma
vez pioneira e lançou a campanha
Ensino Sem Dor,
em parceria com a Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da
USP – que já aboliu o uso de animais vivos para o aprendizado de técnicas
cirúrgicas.
Nos Estados Unidos, mais de 70% das faculdades de Medicina não utilizam
animais, na Itália a utilização de métodos alternativos chega a 71% em
instituições de ensino superior e na Inglaterra e Alemanha, nenhuma
instituição pode usar animais nas aulas.
No Brasil, a Faculdade de Medicina do ABC foi a primeira a proibir o uso de
animais vivos na graduação. “No inicio houve muita resistência na
implantação dos métodos alternativos ou substitutivos. Os alunos tinham
adquirido o preconceito transmitido por professores conservadores. Depois de
muita discussão e palestras de orientação a resistência foi amenizada e hoje
vivemos em equilíbrio com as opiniões divergentes”, analisou uma das
principais responsáveis por essa conquista, a Prof. Nédia Maria Hallage.
Questionada sobre a qualidade do ensino a professora é enfática. “Com
certeza não houve prejuízo no ensino” e esclarece, “nas disciplinas do curso
básico utilizamos principalmente métodos digitais, temos programas de
computadores em diferentes áreas. Nas disciplinas cirúrgicas utilizamos a
Técnica de Larsen para fixação e conservação de cadáveres de animais com
morte natural.”
*
Você também pode
Para alunos que também querem entrar com o pedido de objeção de consciência,
lembre-se que o percurso não é tão fácil. “Foi uma decisão muito difícil na
época, sabia das represálias que aconteceriam, das reações negativas dos
professores e de muitos colegas, mas hoje avalio tudo como muito positivo”,
assume Róber, que hoje é referência no assunto - a UFRGS está modificando
muitas aulas para deixar de usar animais.
Apesar de ter trancado a faculdade por problemas financeiros, Juliana
encoraja outros alunos que pensam como ela. "Não se acovardem! As
retaliações virão, mas se nós não tivermos essa coragem não sairemos do
lugar”.
Para acelerar os passos lentos do ensino, a Prof. Nédia indica o que os
docentes devem fazer para melhorar a situação. “Precisamos de professores
que lutem para esta mudança de paradigma em cada curso que ainda insiste em
manter o ensino com uma prática desumana e desprovida de ética”.
O be-a-bá para uma mudança de atitude e tomada de consciência já existe em
nosso país, o que falta é investimento das faculdades para adquirirem
métodos alternativos, informação por parte dos alunos e dos professores para
evitar preconceitos e principalmente, coragem para mudarmos a realidade.
"Os animais não existem em função do homem, eles possuem uma existência e um
valor próprios. Uma moral que não incorpore esta verdade é vazia. Um sistema
jurídico que a exclua é cego." (Tom Regan, autor de Jaulas Vazias)
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*Veja "NÃO MATARÁS" -
www.youtube.com/watch?v=zKLjT3s_hCI*
O vídeo trata da utilização de animais no ensino e na pesquisa. - Instituto
Nina Rosa
www.institutoninarosa.org.br *
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já se cadastrou no
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Lista de Discussão Veganismo e Vegetarianismo - USP
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