Selos verdes atestam que o produto certificado não se valeu de exploração indevida dos recursos naturais na cadeia produtiva/Foto: Iassikurkijarvi
Eles são desenvolvidos para informar ao consumidor que o produto é certificado em razão de atender a normas socioambientais, mas às vezes acabam confundindo. Dois estudos divulgados recentemente revelam que os chamados selos verdes acabam, muitas vezes, sendo colocados pelas próprias empresas, sem qualquer auditoria ou verificação independente, segundo matéria publicada na edição desta quarta-feira, 14 de julho, pelo jornal O Estado de S.Paulo.O levantamento realizado no Brasil pelas consultorias Unomarketing, Mob Consult e Ideia Sustentável apontou a existência de 600 selos verdes ou com atributos de sustentabilidade no país - atribuídos, em grande parte, por meio de critérios questionáveis. A ideia é reforçada por um outro estudo, de nível internacional. O World Resources Institute (WRI) mapeou em 42 países a existência de 340 selos socioambientais, dos quais menos de um terço monitora os reais impactos sociais e ambientais da cadeia produtiva.
"Há uma grande quantidade de selos autodeclarados: eles não são auditados de maneira independente e contam apenas com a chancela da própria empresa que comercializa os produtos", explicou ao Estadão o representante da consultoria Ideia Sustentável, Ricardo Voltolini. Em âmbito nacional, o problema é identificado porque falta no Brasil um órgão ou entidade que faça o papel de dar aval às certificações que existem no mercado.
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e o Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro), por exemplo, emitem selos como o Procel (de eficiência energética para eletrodomésticos). Já certificações conhecidas no mercado internacional, como FSC (manejo florestal) e Ecocert (orgânicos), passam por auditorias feitas por organismos independentes.
Segundo definição da ABNT, a certificação ambiental atesta, por meio de uma marca inserida na embalagem, que determinado produto ou serviço apresenta menor impacto ambiental em relação a outros disponíveis no mercado. O problema para o consumidor é a ausência de informação sobre a confiabilidade dos selos. "O consumidor deve ler os rótulos com atenção, pesquisar, buscar referências", sugere Voltolini.
Mercado green
O mercado para produtos ambientalmente corretos cresce gradualmente. Só o Japão possui mais de 3 mil produtos certificados à disposição do consumidor. De acordo com dados do estudo A Economia dos Ecossistemas e da Biodiversidade (Teeb, na sigla em inglês), elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o segmento para produtos agrícolas certificados alcançará US$ 210 bilhões em 2020. Em 2008, ele chegou a US$ 40 bilhões. No Brasil, 21% dos consumidores levam em conta as questões socioambientais no momento das compras, segundo Voltolini. Com foco voltado para o consumidor mais consciente, empresas brasileiras de setores como cosméticos, têxteis, siderurgia, pneus reformados, gráficas e até de fraldas descartáveis buscam uma certificação ambiental mais padronizada. A ABNT tem há 17 anos um programa de certificação chamado Qualidade Ambiental, que só passou a receber pedidos das indústrias em 2009. As primeiras certificações verdes da ABNT devem ser emitidas ainda em 2010.
Para o diretor de qualidade do Inmetro, Alfredo Lobo, o consumidor brasileiro já utiliza os selos como um fator de decisão de compra. Ele cita como principal exemplo o selo Procel. "Hoje, 78% dos consumidores levam o selo de economia de energia em conta na tomada de decisão de compra e 40% aceitariam pagar mais pelo produto com selo." Além de economia de energia, o Inmetro certifica produtos de origem florestal (selo Cerflor) - e também alimentos, como frutas, dentro de critérios de sustentabilidade. O Inmetro estuda, em parceria com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), os critérios para a emissão de um futuro selo verde para carros. A ideia, segundo Lobo, é unir dados referentes ao consumo de combustível dos veículos e também as emissões de poluentes em uma única certificação. "Seria uma espécie de Procel para carros", explicou. As primeiras reuniões entre os órgãos para discutir a proposta serão realizadas até o final de julho.
Fonte: EcoD
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